Regina Passy-Yip
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Regina Passy-Yip
Qual é a sua formação básica?
Eu sou professora de química e física, formada pela USP. A química até que ajuda na hora de misturar materiais, colas, tintas, vernizes... Inclusive eu fiz uma mini violeta que pintei com um sal que muda de cor de acordo com a umidade do ar – como aquele galinho que muda de cor. Ficou interessante! Uma violeta que prevê o tempo! risos...
O que inspira você a criar cada ambiente?
Geralmente eu gosto de uma peça, e a partir dela eu crio o ambiente.
E geralmente ela tem uma história ou pode ser uma peça que você viu e gostou?
Algumas peças eu conheço desde pequena. Por exemplo, tem uma que é da casa de uma tia, e eu sempre gostei. Tem o lado pessoal. Além disso, eu adoraria ter todas essas peças comigo, mas não cabem na minha casa, precisava ter uma casa maior! risos... Pode ser a reprodução de um ambiente da minha casa. Tem um ambiente que foi feito por causa de uma mesa, e outro por causa de um armário.
É uma forma de preservar a história e o patrimônio da família?
É, não deixa de ser. Mas pode ser de outra fonte. Tem peça que não é da família – como essa namoradeira que vi no Museu da Casa Brasileira há muito tempo, logo que eles inauguraram. Não foi exatamente essa, mas eu achei a ideia do móvel muito interessante. Outro ambiente começou por causa da chapeleira do ateliê onde eu dava aulas, o Studio das Artes. Eu tenho que ver e tenho que gostar. O balanço de jardim minha filha viu para vender na rua. Como aqui não tem espaço para uma de verdade, fiz uma em miniatura.
E como surgiu a ideia de montar o MiniClube – o primeiro grupo de discussão sobre miniaturas no Brasil?
Em 2000 ganhei o computador e a internet. Lembro que era o fim-de-semana do dia das mães. No sábado eu escrevi para a revista "Faça Fácil". Na época eu estava fazendo a biblioteca. Contei para eles sobre o que estava fazendo. Eles acharam bem interessante e pediram para mandar uma peça pelo correio para fotografarem. Expliquei que não daria certo, pois é tudo colado, bem delicado. Acabamos marcando de ir lá, levei a biblioteca e fizeram uma matéria na revista. Aí as pessoas começaram a me procurar. Eu já dava aulas de miniaturas, mas não conhecia o padrão de escalas 1:12 lá de fora. Em agosto resolvi fazer o site, pela repercussão que a matéria teve. Foi um site bem simples. O segundo eu também fiz sozinha e tinha até música. O terceiro foi meu filho que fez e ficou muito bonito. Até que cheguei ao atual, "com.br". Bem, voltando à história do grupo, lá para novembro de 2000 recebi um email de uma pessoa que conhecia miniaturas fora do Brasil e me disse que o meu era o primeiro site brasileiro sobre miniaturas que ela achou. Ela falou dos grupos de miniatura estrangeiros e propôs abrir um grupo/clube. Apesar de todo o meu receio ela me convenceu e abriu o grupo. Era a Roselly Pizzolotti – na verdade a ideia do grupo foi dela, não minha; ela é quem mais agitava tudo. Primeiro entraram meus alunos e depois mais pessoas foram buscando um ponto de encontro. Tanto é que o primeiro "slogan" foi "ponto de encontro de minimaníacos". De tempos em tempos a gente muda o "slogan", mas nosso foco sempre foi o ensino e aprendizagem. Já fizemos exposições, workshops... Gostaria muito de voltar a fazer workshops. Por enquanto o grupo está até fechado para novas adesões, pois não tenho tempo para acompanhar e agitar as coisas.
Olhando esses 8 anos de internet, você acha que está aumentando o número de interessados no miniaturismo?
Melhorou bastante! E agora estão melhor informados. Antigamente nem sabiam o que era miniatura – achavam que era "imã de geladeira", "pedrinha pintada", "lembrancinhas de casamento", coisas assim. Agora já sabem do que se trata.
Como foi escrever o primeiro livro brasileiro só sobre miniaturas?
Há muito tempo eu já pensava nisso, e muitas pessoas me "cobravam" um livro. Mas eu não me achava preparada, amadurecida o bastante para um projeto desses. Chegou uma hora que percebi que estava pronta! Foi quando eu acabei de fazer aquela casa onde cresci. Então comecei a fotografar de uma maneira mais especial, o molde, os passos. Eu já tinha feito algumas apostilas antes, de pequenos projetos, com fotografia. Mas para a casa foi tudo feito com mais cuidado. Já comecei a pensar na estrutura do livro – que não foge muito do conteúdo dos livros de fora do Brasil. Só que geralmente um livro sobre miniaturas não tem a parte dos móveis. Ou então é só sobre móveis ou só sobre massas. Este é bem abrangente. Eu gosto de fazer os móveis que mexem comigo, acho que dá um toque pessoal no ambiente quando a própria pessoa faz os móveis.
Foi difícil publicar o livro?
Eu vou atrás, eu procuro, aprendo. Eu aprendi miniaturas sozinha, quebrando a cabeça. Com o livro também foi assim. Eu venho de uma família de livreiros. Meu avô tinha uma livraria e trazia os livros de Portugal. Minha tia Esmeralda foi a primeira professora de encadernação artística do Brasil. Eu aprendi muito com ela. Minha filha entrou na faculdade de editoração e estava fazendo um estágio na época. Com ela eu vi que publicar um livro "on-demand" não é tão difícil. Você precisa ter o dinheiro, claro! Inclusive ela foi a diretora do projeto, pois conhece bem miniaturas e sabia como eu queria o livro. A partir daí foi o processo de fazer o livro, revisar tudo várias vezes, fotografar melhor ainda. Eles me apresentaram vários projetos de layout, de fontes, cores, participei bastante. O projeto todo levou praticamente um ano. No final eu quase desisti de lançar, devido a problemas de saúde na família, não estava com cabeça para isso. Mas o Pépp me convenceu a lançar, e o lançamento inclusive foi na casa dele. O que gostei muito, pois foi no nosso meio.
E como tem sido a demanda / aceitação do livro?
Quem procura já conhecia miniaturas. Mas quem comprou o livro pela livraria muitas vezes vai no site depois e escreve falando do livro, conta das peças que fez, isso é muito gostoso.
Você acha que teria mercado para uma revista sobre miniaturas no Brasil, como tem lá fora?
Várias revistas já publicaram matérias ou especiais sobre miniaturas. Eu já fiz, a Betinha já fez... Mas se for publicar numa banca, tem que ser de outra forma. Ainda não há cultura do miniaturismo no Brasil. As pessoas querem algo de "resultados rápidos", gerador de fonte de renda. Muita gente me pergunta: "mas isso dá para ganhar dinheiro?" A gente sabe que não é assim, leva-se muito tempo para fazer cada peça, não é porque é pequena que é rápido. Tem o detalhe, o cuidado. A não ser que compre tudo e só monte o ambiente, com peças bem baratinhas de atacado: móvel de MDF, pratinhos e copinhos da Florbrás, são bonitinhos, mas a qualidade não é a mesma.
Quais suas técnicas favoritas?
No começo eu gostava muito de aproveitar peças do dia-a-dia. Andando na praia, no Ano Novo, eu vi um daqueles arames que segura a rolha do champanhe e pensei: "de repente se virar de cabeça para baixo dá para fazer um suporte de samambaia." Eu ia nas lojas de botões e pedia para ver o catálogo. Deviam me achar maluquinha, porque eu via um botão e falava, "nossa, que bandeja linda", ou "que lustre maravilhoso", ou "ah, que lindo conjunto de tacinhas"! risos...
Mas o que mais gosto de trabalhar é a madeira, o cedro. Gosto muito do cerâmica plástica, dá uns efeitos fantásticos. Mas gosto muito de madeira, de móveis antigos cheios de detalhes, pesquisar a história deles.
Que escala você prefere?
A 1:12 mesmo, já me acostumei. Sem contar que é mais conveniente. Se precisar de uma peça para completar o ambiente é mais fácil encontrar. Eu gosto de fazer todas as peças dos meus ambientes, mas mais recentemente, por pressa para o lançamento do livro, acabei misturando alguns itens de outros.
O que você ainda sonha em realizar em miniaturas?
De peças grandes quero um pedaço da casa da minha tia. É um hall com copa, com dupla altura, vai ficar muito grande – esse é o problema. Também quero fazer muitos móveis antigos e um móvel do desafio Luis XV – só ainda não escolhi qual - risos... E talvez voltar a dar aulas, depois que as coisas acalmarem por aqui.