Anynha
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Anynha (Ana Dalgisa)
Qual é a sua experiência antes das miniaturas?
Eu sempre trabalhei com a parte manual, sempre precisei disso! Eu fazia tricô desde os 6 anos. Crochê, aprendi com 8. Eu via um estofador de sofás trabalhar e já prestava atenção para ver como ele fazia. Meus sofás sou eu que estofo!
Na realidade eu sempre gostei de trabalhos manuais.
Você é uma das poucas miniaturistas que tem uma loja própria online. Você já tinha experiência comercial?
Já tive loja. Quando eu estava grávida do meu filho mais velho - já vai fazer 29 anos - eu tive uma loja num lugar super-bacana em Curitiba onde tem uma feira do largo da horta, é uma feira super-nobre, que só acontece aos domingos. Todo tipo de artesanato é vendido lá. Eu aluguei um ponto numa casa antiga, de 1900 e pouco e comecei a vender os meus trabalhos. Naquela época eu fazia tudo para o bebê. Fazia lençóis, edredons, capas de berço, etc. Enxoval completo. Caixinhas mil.
Mas tive um grande problema na loja. Na época, eu tinha filho pequeno, ainda éramos um casal novo, não tinha empregada em casa, então deixei uma auxiliar minha cuidando da loja no domingo, no começo da manhã, para ficar um pouco com a família. Em um determinado momento a moça me liga e disse que não tinha mais nada para vender, que o estoque tinha acabado, tinha vendido tudo! Pararam 4 ônibus de excursão, uma falou para a outra e compraram tudo. Fiquei feliz da vida e corri lá com meu filho e meu marido para recolher o dinheiro da venda. Menina do céu! Foi um choque! Ela cometeu um engano fatal! O que custava 10, ela vendeu por 1. Cortou uma unidade no preço de todas as peças!!! Ela não percebeu e continuou errando. Com isso fiquei sem dinheiro nem para repor o material. Tive que entregar o ponto e fechar a loja. Fiquei um bom tempo até deprimida, pois às vezes eu tinha até virado a noite fazendo crochê, fazendo os trabalhos, cuidando do meu filho de 4 meses, cozinhando, lavando, passando, cuidando da casa ao mesmo tempo, e para acontecer isso.
Nossa! Isso faria qualquer um desistir do comércio, não?
Eu não conseguia ficar parada. Quando meu filho mais velho tinha 3 anos e foi para o maternal, tive que ir numa malharia da cidade encomendar um uniforme especial. Quando cheguei lá não consegui me segurar e fiz várias alterações no uniforme, que de feio ficou lindo. A dona da malharia gostou de mim e do que fiz e me convidou para ser sócia dela. Sem dinheiro, porque não tinha nenhum. Eu entrei só com meu trabalho, para vender e criar. Ela não fabricava só uniformes, ela fornecia para várias lojas. Aprendi a mexer nas máquinas. Ia nas lojas vender a produção, vendi até para a C&A.
Passaram-se os anos, a situação financeira do meu marido melhorou. Nessa época minha irmã ficou tragicamente viúva. Meu pai resolveu abrir uma loja para nós duas. Não adianta, parece que o comércio me chama! (risos). Desta vez abrimos uma loja em um shopping de Curitiba.
Quando veio a loja, não deu mais para continuar fazendo tudo isso, era muita coisa. Continuei na malharia, mas só produzindo o que eu vendia na minha loja - de artigos para crianças. De 1 a 18 anos. Durou 5 1/2 anos.
Sou muito centralizadora: eu que quero fazer, eu que quero vender, eu que quero arrumar, eu que quero comprar, quero controlar o caixa, a máquina de cartão de crédito. Reclamava que estava sobrecarregada, mas era eu mesma que fazia isso! Com o segundo filho ficou difícil. Minha irmã foi trabalhar com meu pai e fechamos a loja.
E como as miniaturas entraram na sua vida?
A minha brincadeirinha começou tão engraçadinha... Eu estava grávida dos meus caçulinhas (um casal de gêmeos), que agora vão fazer 18! E eu já tinha 2 filhos, um com 11 e um de 8, na época. Aí esse de 8 anos ia na banca de revistas todos os dias com o pai. Um dia ele viu aquela coleção da Del Prado - a primeira casa - e comprou o primeiro fascículo. Começou a fazer a coleção e eu comecei a ajudá-lo. E aí eu falei: "Sabe o quê, Henrique, a mãe vai fazer uma casinha junto" Então comprávamos dois fascículos de cada vez, uma para ele, uma para mim. Tudo que eu fazia ele fazia junto comigo. Todo sábado e domingo a gente trabalhava nas peças dos fascículos.
Depois de um tempo, ele desistiu! Achava que a dele estava feia, mal-acabada. Naquela época não tinha nenhuma ferramenta própria para miniaturas. A gente usava lixa de unha para lixar as peças, tinha que improvisar tudo! Além da ansiedade de esperar pelo próximo fascículo - era um por semana.
Aí eu comecei a descaracterizar completamente a casa. Ali que eu percebi que eu já tinha um jeito para a coisa, já tinha um pezinho na miniatura. Resumo: acabei fazendo a casa dele e a minha. E não parei mais!
Aquela casa só vinha com uns móveis básicos para a gente montar. Você fazia tudo ou comprava algum acessório?
Cada viagem que eu fazia eu já procurava um endereço para comprar alguma coisinha. Eu não comprava muitos acessórios, por que eu comecei a fazê-los para mim. Se eu achava que um ambiente precisava de uma caixinha de charutos, eu já fazia mais duas (para outras casinhas). Então quando eu viajava, eu comprava ferramentas. Serrote, alicates, limas, tudo especial para miniaturas.
Aí você se encontrou profissionalmente?
É a minha vida. Me realizo com as miniaturas. Parei de querer mudar móveis e cortinas na minha casa. Quando quero criar algo, crio um ambiente em miniatura. Mal termino um já estou criando outro.
Como é seu espaço de trabalho?
Meu atelier é deste tamaninho, uma casinha de boneca, no sótão da casa. Pintado de branco e rosa, é um biscuit. É onde eu crio, onde eu faço as peças-piloto, onde eu invento. Lá eu tenho todas as minhas máquinas, o computador, o controle de estoque, as araras. Mas meu marido reclama que estou "invadindo" a casa (risos). Mandei construir um galpão bem escondidinho nos fundos para fazer a marcenaria, 'roubei' a casinha das crianças - já não são mais crianças - para fazer a parte de resina e fundição e a sala de ginástica dele é onde coloco todas as araras com o estoque. Parece uma loja lá! Sem contar as sucatas! Sou a rainha da sucata, não consigo jogar nada fora. Usei várias partes para fazer um ambiente de DJ... tampinha de batom virou caixa de som. Tampa quadrada de shampoo virou a mesa do DJ, guardo tudo!
Guardo tudo! Porque quando vem a idéia, você tem que ter o material na mão. Se não tiver, perde o entusiasmo. Eu sou muito imediatista, a hora que quero algo, tenho que fazer. Gosto de estoque. Se vou começar a lidar com massinha, fimo, quero todas as cores! Contas, canetinha, tudo! Por isso nem vou andar nessa feira (MegaArtesanal), senão vou gastar mais do que vendo! (risos)
Como esse hobby virou uma atividade profissional?
Passaram-se uns 2, 3 anos, e eu estava pesquisando na internet e achei o site da Ciça Braga. Você não pode imaginar a minha alegria! Imaginei: "pronto, agora estou feita! Agora eu posso comprar também! Não preciso ficar me matando de fazer as coisas". Fui uma grande consumidora da Ciça. Logo depois descobri o site da Gisele, do Armazém da Miniatura. E comecei a comprar, comprar, comprar. Todo mês eu comprava um pouquinho, um pouco de um site, um pouco do outro. Fui fazendo casa depois de casa.
Até que um dia a Ciça me ligou e perguntou o que eu tanto fazia com todas aquelas miniaturas. Contei que fazia casinhas, mas também que eu mesma já fazia muita miniatura, pois quando decidia fazer uma caixinha de charutos, já fazia mais para ter estoque, pois tinha planos para mais casas e ambientes ainda. Ela se interessou em conhecer meu trabalho. Eu fiz muitas miniaturas e mandei para a Ciça. Isso faz uns 6, 7 anos. Também ofereci para a Gisele, que comprou alguma coisa minha. Para a Ciça ficou em consignação. Ela ainda tem algumas coisas minhas. Na época eu achava meio confuso esse negócio de vender para outras lojas.
Foi por isso que você resolveu montar a sua própria loja?
Meu marido sugeriu que eu montasse minha própria loja. Eu resisti um pouco à idéia, mesmo porque meu estoque estava todo com a Ciça. O que eu queria mesmo era ser só fabricante. Mas tem um problema muito sério nisso: a cópia! Sua peça está à venda nesses sites, mas anonimamente. Alguém acha legal e copia. Não fica igual, mas copiam, e isso é grave. Então acabei ligando para ela, pedi meu estoque. Entramos num acordo, ela ficou com uma parte e mandou o restante. Com isso, de fornecedora de lojas, vendo direto ao consumidor. Mas também não compro nada de ninguém. Só vendo o que eu fiz.
Uma maneira que arranjei de contornar a cópia é o meu certificado. Quem compra uma miniatura minha recebe um certificado de autenticidade, para saber que é meu. Já passei por momentos desagradáveis com essa questão de cópia, mas agora aprendi. O caminho é ficar na minha, trabalhar sério.
E quantos itens você já tem à venda?
Eu gostaria de ter muito mais itens do que tenho atualmente. Estou com 1.200 itens que eu fabrico. Gostaria de ter muitos mais. Mas sou uma só! Com isso acabo delegando tarefas. A parte de movelaria quem executa é meu funcionário, o Abraão. Mas todas as peças sou eu quem crio. Eu que desenho, dou a escala, faço a peça piloto.
Você só quer vender as peças prontas?
Acho que vou começar a fazer alguns kits também, tem gente que gosta de montar, de fazer. Mas não vai comprar todo o material, as ferramentas para fazer um só.
E ensinar, você gostaria disso?
Também vou começar a dar aulas em Curitiba, montar apostilas, tem tido muita procura. Mas quero fazer aulas mais individualizadas. Por exemplo, a pessoa poderá escolher entre 20 itens e aprenderá aquele que preferir. As aulas serão em grupo, mas cada um faz seu trabalho escolhido no seu ritmo.
Quanto à produção, alguma novidade?
Agora estou investindo pesado na fundição. Se você quer "sair do lugar", você tem que investir. Eu sentia muita falta, por exemplo, de acabamento: sancas, rodapés, colunas, janelinha, portas, trincos, etc. Então investi nisso.
Por que a miniatura ainda é tão pouco conhecida no Brasil?
Ainda falta desenvolver muita coisa em miniatura no Brasil. O brasileiro não tem o hábito da miniatura, não é o primeiro hobby. Não é nem o segundo, acho que não é nem o décimo! Nosso país ainda é "pobre" nesse sentido, muita gente não tem dinheiro para comprar uma cestinha em miniatura, isso ainda é supérfluo.
Lá fora, as crianças já ganham uma casa de bonecas dos avós assim que nascem. É uma coisa cultural. Todos os países que foram colonizados pelos ingleses no passado herdaram essa cultura - Estados Unidos, Canadá, Austrália... Meu marido até brinca: "Você deveria morar na Inglaterra!" E eu respondo: "Como? Minha realidade é essa! Você quer que eu te abandone?" (risos)
E lá fora, você vende bem?
Não, eu ainda não entrei nesse mercado. Como eu já falei antes, quando comecei a produzir, eu queria ser fornecedora mundial. Na época eu até procurei um grande distribuidor mundial, mas então eu não podia porque não tinha firma estabelecida. Eu teria que ter um site, eu teria que ter tudo que eu tenho hoje. Só que hoje me falta tempo para isso! Mal consigo ter tempo para dar conta de suprir minha própria loja, como vou ter tempo para produzir e fornecer para um grande distribuidor?
Você tem planos para atingir o mercado internacional, ou para ampliar seu mercado?
Minha intenção é participar de mais feiras, no Brasil e fora. Acho isso muito interessante. Estou fazendo meu site em inglês, e uma amiga que mora em São Francisco está começando a divulgar meu site. Nele aceito várias formas de pagamento, como cartões de crédito, Pague seguro, e vou começar a aceitar o Paypal, que é muito usado lá fora.
E além das feiras?
Já me procuraram querendo representar meus produtos. Então vou lançar um catálogo virtual e um impresso, para representante. Tem que ser um catálogo que seja fácil de inserir novas peças porque não consigo ficar sem lançar novos produtos.
Todas as fotos são cortesia da Anynha